Autor:
Marcelo Henrique
Data:
ago 22 2025
Comentários:
0
Em meio à pressão por resultados e a uma tabela incômoda no Brasileirão — com apenas duas vitórias em 14 jogos e a 16ª posição — o São Paulo foi ao mercado e trouxe um nome que casa com a urgência do momento: Gonzalo Tapia. O atacante chileno, de 23 anos, chega por empréstimo do River Plate até junho de 2026, com opção de compra. O anúncio saiu em 18 de julho de 2025, depois de semanas de negociação, e carrega um selo claro: é um pedido direto de Hernán Crespo, de volta ao clube para seu segundo ciclo como técnico.
Tapia desembarca com fama de ponta rápido, agressivo no um contra um e com faro de gol partindo das alas. No River, porém, quase não jogou: foram sete aparições desde março, após a transferência da Universidad Católica, onde havia emplacado 11 gols em 33 partidas e chamado a atenção a ponto de somar três convocações pela seleção do Chile. O recado do jogador ao assinar foi simples e direto: chega empolgado e disposto a brigar por espaço, sem hesitar quando o São Paulo bateu à porta.
Para a diretoria, é uma aposta de risco calculado: contrato longo de empréstimo, tempo para adaptação e, se der liga, uma cláusula de compra que permite segurar o atleta em definitivo. Para Crespo, é uma peça para ativar o plano de jogo: velocidade pelos lados, profundidade e pressão alta. O combo que o time tem sentido falta desde o começo do campeonato.
Formado na Universidad Católica, Tapia foi crescendo de produção ao ganhar minutos como ponta agressivo, especialmente atacando o espaço nas costas dos laterais. Não é só arrancada: ele usa bem o corpo para proteger a bola, tem leitura para diagonais curtas na entrada da área e finaliza com rapidez, sem muitos toques. Aos 23 anos, ainda tem margem de evolução, principalmente na tomada de decisão no último passe.
Os números no Chile ajudam a entender a escolha: 11 gols em 33 jogos em 2024/25 mostraram consistência e presença na área, mesmo partindo aberto. No River, a janela foi curta. Chegou em janeiro por 970 mil euros, mas esbarrou na concorrência pesada do elenco e em um calendário apertado. O empréstimo ao Brasil é a chance de retomar minutos, ganhar confiança e manter o valor de mercado — bom para todas as partes.
O perfil encaixa em carências do São Paulo. O time sofre quando precisa acelerar em transição e tem oscilado na criação pelos lados. Tapia oferece justamente isso: arrancada, drible frontal e capacidade de atrair marcação para liberar o corredor ao lateral. É o tipo de ponteiro que abre o campo e empurra a linha defensiva rival para trás, algo que faz falta quando o adversário baixa o bloco e congestiona a entrada da área.
Do ponto de vista de vestiário, chega sem status de estrela, mas com currículo suficiente para disputar posição desde cedo. E com um ponto a favor: familiaridade de Crespo com o mercado sul-americano e com esse tipo de perfil, que ele costuma explorar em times de transição rápida e amplitude bem marcada.
Crespo costuma trabalhar com ideias claras: intensidade sem bola, agressividade na recuperação e ataques rápidos assim que o espaço aparece. Com Tapia, ele ganha uma peça que pode operar em três moldes sem mexer na essência do jogo.
No 4-3-3, a função é clássica: ponta aberto, pé trocado para cortar por dentro e finalizar, ou pé natural para esticar a linha e cruzar nas costas da zaga. No 4-2-3-1, pode ser o homem de amplitude, mantendo o time alto e abrindo corredor para o meia central infiltrar. Em um 3-5-2, vira segundo atacante, flutuando do lado fraco para atacar o segundo pau. Em todos os cenários, a missão é clara: acelerar a jogada, puxar marcação e gerar desequilíbrio.
Esse encaixe também depende de sincronia com laterais e meio-campistas. Se o lateral passar por fora, Tapia tende a cortar por dentro e atacar a área; se o lateral segurar, ele aprofunda até a linha de fundo. Com um centroavante de referência, suas diagonais curtas se tornam ainda mais perigosas. Sem um 9 fixo, pode aparecer como finalizador da jogada no segundo poste.
No curto prazo, há etapas obrigatórias: exames, registro, adaptação física ao ritmo do calendário e entendimento das rotas de pressão que Crespo exige. Existe ainda a questão do limite de estrangeiros em súmulas no Brasil, detalhe que o clube precisará administrar a cada rodada. Mas o desenho inicial indica que, uma vez regularizado, o atacante deve começar ganhando minutos vindo do banco para depois brigar por titularidade.
Para o São Paulo, a aposta tem lógica esportiva e financeira. O empréstimo longo dá fôlego para adaptação e reduz a ansiedade por impacto imediato, enquanto a opção de compra protege o clube caso o jogador dispare de produção. O risco? Adaptação ao ritmo do Brasileirão e a necessidade de ajustar a tomada de decisão em jogos fechados. O upside? Um atacante em fase de crescimento, com custo de entrada moderado e potencial de revenda.
Do lado do jogador, o cenário é convidativo: liga competitiva, vitrine grande e um técnico que bancou seu nome. Ele chega com discurso de entrega e zero dúvida sobre a escolha. Para o vestiário, isso conta. Para a arquibancada, mais ainda.
O movimento também conversa com o momento do clube no campeonato. Em 16º, cada ponto vira assunto de sobrevivência. A chegada de um ponta veloz não resolve tudo, mas ataca um problema bem específico: falta de profundidade e ameaça constante pelos lados. Se Tapia cumprir o papel de esticar defesas e criar superioridades, abre-se espaço para os meias respirarem e os atacantes finalizarem melhor.
O que vem agora? Sem ansiedade além da conta, o roteiro passa por treinos para afinar sincronia e entender os gatilhos de pressão e as combinações com laterais e meias. A expectativa interna é que ele ganhe minutos nas próximas rodadas, conforme a documentação avance e Crespo perceba que a perna está “encaixada” no ritmo do time.
Se a execução em campo acompanhar o plano no papel, Tapia muda a paisagem do ataque tricolor: menos previsibilidade, mais aceleração, mais chances de gol. É disso que o São Paulo precisa agora — e é isso que Crespo espera do seu novo ponta.
Escreva um comentário