Autor:
Marcelo Henrique
Data:
out 10 2025
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Quando László Krasznahorkai, romancista húngaro, foi anunciado como vencedor do Nobel de Literatura 2025 pela Swedish Academy, o mundo literário quase que parou para ouvir.
O anúncio oficial chegou em Estocolmo, na Suécia, em 7 de outubro de 2025, com a declaração do secretário permanente da Academia, Mats Malm, que descreveu a obra de Krasznahorkai como "um universo literário onde realidade e pesadelo se desfazem, mas onde a arte ainda tem força transformadora".
Krasznahorkai nasceu em 5 de janeiro de 1954 na cidade de Gyula, no leste da Hungria. Filho do advogado György Krasznahorkai e da funcionária social Júlia Pálinkás, cresceu sob a sombra de um segredo: a família havia escondido sua origem judaica para sobreviver ao Holocausto. Essa experiência de ocultamento tornou‑se um dos fios condutores de sua literatura, lançando luz sobre a fragilidade da memória e da identidade.
Depois de concluir o ensino médio em 1972, Krasznahorkai ingressou na Universidade József Attila (agora Universidade de Szeged) para estudar direito, transferindo‑se em 1976 para a Universidade Eötvös Loránd (ELTE) em Budapeste. Em 1978 decidiu mudar o rumo e passou a cursar húngaro e literatura, tema que o acompanharia por décadas.
O primeiro romance publicado – Satantango (1985) – já mostrava o estilo que o tornaria famoso: frases extensas, quase hipnóticas, e uma visão apocalíptica da condição humana. A obra foi adaptada em 1994 por Béla Tarr, gerando um filme de sete horas que virou referência no cinema mundial.
Ao longo das décadas, Krasznahorkai acumulou prêmios que incluíam o Man Booker International (2015), o National Book Award for Translated Literature (2019) e o Best Book of the Year na Alemanha (1993). Seu romance The Melancholy of Resistance (1989) também recebeu a adaptação de Tarr, reforçando a parceria criativa entre escritor e cineasta.
Além das honras, o autor é conhecido por sua escrita desafiadora – chegou a compor um livro de 400 páginas usando apenas um ponto final, segundo a Smithsonian Magazine. Essa “monstruosidade” estilística é, para ele, a maneira de refletir a continuidade infinita do desespero e da esperança.
Ao receber a notícia, escritores húngaros celebraram a conquista como um marco histórico. György Dragomán, autor de The White King, declarou: "Krasznahorkai nos lembra que, mesmo nas sombras mais densas, a linguagem pode acender uma chama”.
Já a Swedish Academy enfatizou o aspecto universal da obra: "Ele nos oferece um espelho onde o terror apocalíptico encontra a capacidade resiliente da arte", citou Mats Malm durante a cerimônia em Estocolmo.
Este é o primeiro Nobel de Literatura concedido a um húngaro desde Imre Kertész, laureado em 2002. A vitória reaviva o debate sobre o papel da literatura pós‑comunista e a forma como autores húngaros abordam traumas históricos, especialmente o Holocausto. Como observa a crítica da Guardian, a coragem de Krasznahorkai em explorar o “oculto” – tanto nas suas páginas quanto na sua própria história familiar – oferece um modelo de resistência cultural.
Na prática, a notícia pode abrir portas para traduções adicionais, impulsionar vendas de obras anteriores e incentivar editais de apoio a escritores que trabalham fora dos padrões comerciais. Bibliotecas de Viena a Nova York já anunciaram exposições temáticas sobre sua obra.
Apesar da fama repentina, Krasznahorkai mantém seu estilo de vida recluso nos arredores de Szentlászló. Em entrevista breve concedida à imprensa húngara, ele comentou que o Nobel será "mais um ponto de partida, não um fim". O autor ainda pretende trabalhar em um novo romance que, segundo rumores, abordará a migração contemporânea na Europa Oriental.
Para os leitores, a conquista sinaliza que a literatura que desafia – que exige paciência, que mergulha em tempos sombrios – ainda tem espaço nos grandes prêmios mundiais. Resta aguardar o próximo capítulo, tanto da carreira de Krasznahorkai quanto da evolução da escrita húngara no cenário global.
É a primeira vitória húngara desde Imre Kertész (2002). O prêmio eleva a visibilidade internacional da literatura do país, atrai investimentos em traduções e reforça o debate sobre traumas históricos e identidade cultural.
Mats Malm é o secretário permanente da Swedish Academy. Ele anunciou oficialmente o prêmio, descrevendo a obra de Krasznahorkai como um exemplo de como a arte pode reafirmar a esperança mesmo em tempos de terror apocalíptico.
A necessidade de ocultar a identidade judaica criou uma obsessão por segredos e memórias reprimidas. Essa temática aparece nos romances como metáforas de desaparecimento, trauma e a persistência da lembrança.
Ele afirmou que pretende iniciar um novo romance sobre migração na Europa Oriental, mantendo seu estilo de frases longas e abordagem profunda, mas ainda assim "fora dos holofotes" em sua vida no interior de Szentlászló.
Sua prosa se destaca por frases extraordinariamente extensas, quase hipnóticas, que criam uma sensação de ciclo infinito. Essa técnica reflete o caos interno dos personagens e reforça a tensão entre desespero e esperança.
out 10, 2025 — Andressa Cristina diz :
Uau 😮🔥 Krasznahorkai finalmente chegou ao Nobel, que coisa épica! 🎉