Na noite de terça-feira, 2 de dezembro de 2025, o Mirassol escreveu seu nome na história do futebol brasileiro ao derrotar o Vasco da Gama por 2 a 0 no Estádio São Januário, no Rio de Janeiro. Os gols, ambos marcados pelo atacante Renato Marques, não apenas selaram a vitória, mas garantiram ao clube do interior de São Paulo sua primeira vaga direta na fase de grupos da Copa Libertadores da América 2026 — sem precisar passar pela prévia. O jogo, disputado sob chuva torrencial que encharcou o gramado antes da bola rolar, foi um dos mais decisivos da temporada e transformou o Mirassol de underdog em protagonista.
Um sonho de interior virando realidade
Na primeira temporada na Série A, o Mirassol surpreendeu até os mais otimistas. Com apenas 66 pontos em 37 jogos (18 vitórias, 12 empates e 7 derrotas), o time de Fernando de Riz chegou ao quarto lugar da tabela, superando gigantes como Flamengo, Corinthians e até o próprio Vasco. O feito é ainda mais impressionante quando se considera que o clube nunca havia jogado na elite do futebol nacional. E o mais curioso? O Mirassol foi invicto como mandante: 42 pontos em casa, com 12 vitórias e seis empates. Nada de derrotas. Nada de vacilo. A torcida de Mirassol, que lotou o estádio do interior com camisas vermelhas e brancas, viveu o momento mais histórico da sua história.
Os gols que mudaram tudo
Renato Marques, um dos principais destaques da equipe, foi o herói da noite. O primeiro gol veio aos 314 segundos do segundo tempo: cruzamento rasteiro de Guilherme, corte para o pé direito e finalização no cantinho do goleiro Léo Jardim. O segundo, aos 365 segundos, foi um contra-ataque perfeito: Cristian Renato partiu com velocidade, passou por dois marcadores e entregou para Felipe Coutinho, que aproveitou o erro de Carlos Cuesta para empurrar a bola para dentro. Foi um gol de contragolpe, de pura eficiência — exatamente o estilo que o Mirassol adotou durante toda a campanha: pouco domínio, muita organização e letalidade nos momentos decisivos.
O Vasco entre a frustração e a desilusão
O Vasco da Gama, por outro lado, viveu mais um capítulo doloroso. Com 45 pontos e na 11ª posição, a equipe de Fernando Diniz não só perdeu a chance de brigar por uma vaga na Sul-Americana como foi humilhado por um time que, segundo o próprio presidente Pedrinho, "não tem muito cartaz". Em julho, Pedrinho chegou a dizer que a torcida não gostaria de ver os jogadores do Mirassol vestindo a camisa do Vasco — um comentário que, naquela época, soou como desdém. Mas naquela noite, os jogadores que ele chamou de "em viés de baixa" mostraram que sabem jogar futebol. Diniz, após o jogo, foi sincero: "Todos eles são muito bons. Tem seis ou sete que já trabalhei. O Yago Felipe estava no banco, o Gabriel já jogou no Flamengo, o Reinaldo é o lateral com mais participação em gols no Brasil nos últimos anos". A ironia era quase dolorosa.
Um clube que nasceu para brilhar
O Mirassol, fundado em 1920, nunca havia passado da Série B. Mas em 2025, com uma gestão inteligente, contratações estratégicas e um treinador que entendeu o perfil do elenco, virou referência. O técnico Fernando de Riz, ex-assistente de Diniz no São Paulo, montou um time compacto, disciplinado e com grande espírito de grupo. Nenhum jogador do elenco tem valor de mercado acima de R$ 5 milhões. Nenhum foi contratado por cifras milionárias. Mas todos têm fome. E isso basta. A conquista da Libertadores é o prêmio mais justo que o futebol pode dar: não ao mais rico, mas ao mais merecedor.
O que vem agora?
O Vasco encerra sua temporada no próximo domingo, 7 de dezembro de 2025, às 16h, contra o Atlético-MG, no Estádio Independência, em Belo Horizonte. O jogo não tem valor competitivo: o clube está matematicamente fora da zona de rebaixamento e impossibilitado de alcançar a 6ª posição, necessária para a Sul-Americana. Mas a partida será um teste para o futuro. A diretoria já sinaliza que mudanças são inevitáveis — e o nome de Fernando Diniz, apesar da lealdade da torcida, começa a ser questionado.
Já o Mirassol, com a vaga garantida na Libertadores, terá até abril de 2026 para se preparar. O clube já começou a sondar jogadores com experiência internacional, e a diretoria revelou que o orçamento para a competição será o maior da história do clube. A ideia é não apenas participar, mas surpreender. O primeiro adversário ainda não é conhecido, mas uma coisa é certa: ninguém vai mais subestimar o time do interior.
Os números que contam a história
- Mirassol: 66 pontos (18V, 12E, 7D) — 4º lugar
- Vasco: 45 pontos (11V, 12E, 14D) — 11º lugar
- Mirassol invicto em casa: 12 vitórias, 6 empates, 42 pontos
- Renato Marques: 14 gols na temporada — 2 deles contra o Vasco
- Última vez que um clube da Série A terminou invicto como mandante: 2017 (Palmeiras)
Frequently Asked Questions
Como o Mirassol conseguiu chegar à Libertadores sem grandes investimentos?
O Mirassol apostou em gestão inteligente: contratou jogadores emprestados, aproveitou talentos da base e focou em atletas com experiência em times de médio porte. O técnico Fernando de Riz montou um sistema defensivo sólido e aproveitou a eficiência nos contra-ataques. Nenhum jogador custou mais de R$ 5 milhões. A chave foi a coesão e a disciplina tática — não o orçamento.
Por que o Vasco está tão longe da zona de rebaixamento, mas tão longe do sonho da Sul-Americana?
O Vasco tem um elenco caro, mas desorganizado. Perdeu jogos fáceis, empatou em casa contra times da zona de rebaixamento e não conseguiu manter consistência. Mesmo com jogadores como Germán Cano e Pablo Vegetti, a equipe sofreu com falta de ritmo e decisões erradas nos momentos-chave. A 11ª posição é um reflexo de inconsistência, não de má sorte.
O que significa para o futebol brasileiro um clube do interior chegar à Libertadores?
É um sinal de que o futebol brasileiro pode ser mais democrático. O Mirassol prova que não é preciso ter patrimônio milionário para brilhar — apenas planejamento, identidade e trabalho. Isso inspira clubes menores, aumenta a competitividade e fortalece o campeonato. A CBF já sinalizou que pode rever regras de acesso à competição continental para incentivar esse modelo.
Renato Marques é o novo craque do Brasil?
Ele não é um nome famoso, mas tem números de craque: 14 gols, 5 assistências e atuações consistentes. Foi o artilheiro do Mirassol e um dos mais eficientes da Série A. Se continuar assim, clubes grandes já estão de olho. Mas o que o torna especial é a humildade — ele nunca se considerou "o cara", apenas um jogador que fez o dever de casa.
O que o técnico Fernando Diniz vai fazer agora?
Diniz ainda é treinador do Vasco, mas sua permanência está em xeque. A torcida exige mudanças, e a diretoria já sinalizou que o elenco precisa ser reformulado. Ele pode pedir demissão ou tentar reconstruir o time em 2026. O que é certo: a derrota para o Mirassol foi o ponto de virada. A pergunta agora é: ele é o homem certo para isso?
O Mirassol vai conseguir manter o nível na Libertadores?
É difícil, mas não impossível. O clube já começou a negociar empréstimos de jogadores com experiência na competição e estuda a contratação de um volante experiente. A chave será a gestão da pressão. Em casa, com a torcida apoiando, o time pode surpreender. Fora, será um desafio. Mas quem disse que o futebol não tem espaço para sonhos?